No site Campo Grande News, por Thailla Torres | 23/07/2019:
A curiosidade pelo que acontece quando não dormimos, seja por sintomas ou situações do cotidiano, lotou uma das salas da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) durante palestra na 71ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), realizada este ano em Campo Grande. A professora de Medicina e Biologia do Sono da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) Mônica Levy Andersen falou dos impactos da privação de sono na sociedade atual.
Ficar sem dormir o tempo necessário, em alguns momentos da semana ou constantemente, é um problema relatado pela maioria, mas, é notável que poucos dão a devida importância à uma noite mal dormida. A maioria só se preocupa quando descobre uma doença crônica do sono ou sente os efeitos colaterais batendo na porta com força.
Mônica é enfática dizendo que a privação do sono pode gerar problemas que vão da tristeza aos problemas cardíacos. Por isso, a saúde física e mental depende especialmente do sono.
“A privação do sono potencializa a depressão e também aumenta a pressão arterial. Em jovens com índice de massa corpórea isso não causa tantos problemas, mas em pessoas que tem índice mais alta e alguns problemas de saúde, o coração paga um preço alto e geralmente é ele que pifa enquanto a gente dorme. Porque quando a gente sonha, aumenta-se a pressão arterial”, explica.
Entre os efeitos da privação de sono estão a dificuldade com a memória, humor, motivação sexual, empatia e rendimento no trabalho ou na escola.
“As crianças, por exemplo, estão ficando muito tempo na internet, tablet, jogos e televisão, por isso, elas estão privadas de sono. Uma criança privada de sono tem piora no rendimento escolar, aumento do peso, alterações comportamentais, por exemplo, hiperatividade. É importante ressaltar que o adulto se torna lento, quieto e preguiçoso, enquanto que a criança se torna hiperativa ágil e mais rápida quando fica sem dormir”.
A memória e atenção também são prejudicadas. “A privação de sono altera os neurônios que fazem com que a plasticidade do cérebro não seja mais tão exuberante como ela já foi um dia. Por isso, a privação de sono tem um efeito muito forte na memória ao longo do tempo”.
É cada vez mais comum pessoas que ao invés de 8 horas (tempo ideal para horas de sono) dormirem de 4 a cinco horas. A assistente social Violeta Quevedo, de 60 anos, estava de passagem por Campo Grande quando soube da palestra. Lhe chamou a atenção o fato de vários colegas de trabalho terem problema com o sono. “Eu estudei a respeito, me chamou atenção e a gente tem no trabalho muitos eventos disso, às vezes, passo por privação de sono. Conheço várias pessoas que tem essa privação, não durmo sempre o que precisaria dormir, então achei muito interessante o efeito disso para o corpo”.
Para quem dorme pouco ou diz não gostar de dormir, as dicas foram um puxão de orelha válido nos dias de hoje. “Eu sou uma pessoa que não dorme de maneira alguma, foi interessante ver como isso pode afetar as questões cognitivas. Também consegui relacionar boa parte desses efeitos sobre o sono com os alimentos que consumo no dia a dia”, explica Carolina Di Pietro, de 20 anos, acadêmica de Nutrição.
A acadêmica Daniele Reis Alcântara, de 22 anos, é do tipo que tenta compensar aos fins de semana. “Pra mim é difícil dormir e isso tem me preocupado faz tempo, porque fico muito desgastada sem dormir”.
A especialista alerta que é preciso tomar a responsabilidade sobre o sono, embora pais não consigam deixar os filhos dormir um pouco mais por questões financeiras e de logística, é preciso então tomar medidas para melhorar sem que seja necessário acordar mais tarde.
“Os riscos não afetam somente o paciente. Estudos mostram que o efeito da falta de sono é um risco ao volante. Estatísticas mostram que parte dos acidentes ocorrem porque o motorista dormiu ao volante ou por falta de reflexos causada pela sonolência”, explica.
Para entender como o sono funciona, a especialista explica ele tem dois estados distintos: o sono mais lento, ou sono não REM, e o sono com atividade cerebral mais rápida, ou sono REM (do inglês, movimentos rápidos dos olhos). O sono não REM é dividido em fases. Já o sono REM é o estágio onde ocorrem os sonhos.
“As fases não REM são distribuídas em três fases que predominam na primeira parte da noite. E você leva aproximadamente 90 minutos para ter o primeiro episódio de sonho. Isso ocupa uma média de quatro horas dormidas que, não é o essencial, porque a qualidade vem com as horas seguintes de sono. Só depois de 4 horas é que a gente sonha muito, que é na segunda parte da madrugada e confere um bem-estar físico e psicológico”.
Medidas – Mônica exemplifica algumas medidas a serem tomadas para resgatar a qualidade do sono e, consequentemente, a qualidade de vida. “Tem pouca ou nada de incidência de luz ao dormir, deixar de mexer no celular duas antes de ir para cama, não fazer uso de álcool (que impede os sonhos) ou café, não fazer uso de medicamentos para dormir sem orientação médica, ter uma alimentação mais leve antes de dormir e evitar discussões. Essas são algumas das orientações”, explica.
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