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Foto do escritorMonica Levy Andersen

Covid-19: sono pode impactar resposta imunológica à vacina

Quantidade e qualidade do sono, antes e depois da imunização, pode afetar a produção de anticorpos. Especialistas explicam interação entre sono e sistema imune




Apesar da ansiedade em receber a vacina contra COVID-19, dormir bem nos dias anteriores e, também, nos que sucedem à imunização é peça-chave na resposta imunológica do organismo à dose recebida.


Isso porque, conforme especialistas do Instituto do Sono, a má qualidade do sono, bem como a pouca quantidade de horas dormidas podem impactar negativamente no sistema imune do indivíduo de forma a reduzir a defesa do corpo quando em contato com o vírus causador da infecção, no caso o novo coronavírus.


Essa possibilidade se dá com base em estudos recentes que apontam para o impacto do sono na também vacinação contra gripe e hepatite. Pesquisadores da University of California observaram que dormir bem nas duas noites anteriores à imunização melhorou a resposta imune contra o vírus da gripe. Além disso, estudo da University of North Texas com adultos com e sem insônia revelou que pessoas com dificuldade para dormir desenvolveram menos anticorpos contra o vírus da gripe um mês após a vacinação.


A constatação corrobora, ainda, com uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que mostra que trabalhadores em turnos noturnos apresentavam resposta imune menor à vacina contra meningite C do que seus colegas do período diurno.


Outro estudo, este da Universidade de Lübeck, na Alemanha, apontou, também, que pessoas que dormiram mal na noite após a vacinação contra hepatite A apresentaram quase metade dos anticorpos se comparados com os que dormiram bem.


Nesse cenário, a biomédica Daniela Santoro Rosa, pesquisadora do Instituto do Sono, destaca a importante interação entre sono e sistema imune para justificar essa relação. Segundo ela, é durante o sono profundo ou o chamado de ondas lentas, que ocorre a produção de substâncias capazes de criar um ambiente ideal para o desenvolvimento da imunidade, como a migração de células do sistema imune, os glóbulos brancos e a produção dos anticorpos.



“Assim, já se sabe que a deficiência de sono, tanto em termos de quantidade quanto de qualidade, é capaz de afetar a resposta imunológica.”


“E, como o objetivo de uma vacina contra vírus, por exemplo, contra COVID-19, é produzir uma resposta imune específica a partir da administração do próprio vírus inativado, vírus atenuado ou até do que chamamos de subunidade viral, que são pequenos pedaços do vírus, sabemos que a vacina vai ‘imitar’ a infecção, porém, sem causar a doença e, a partir disso, gerar imunidade protetora. Ou seja, vai formar células de memória que podem ser ativadas de forma mais rápida caso ocorra o encontro com o vírus. Assim, com dados que sustentam que o bom sono constrói a melhor imunidade, é possível ampliar isso para a vacinação.”



Nesse contexto, dormir mal e por horas inadequadas pode induzir uma resposta imune menos potente do que a observada em indivíduos que têm uma noite de sono de qualidade e com as horas necessárias. “Até hoje, nenhum trabalho mostrou a perda total da imunidade, o que se observa é a diminuição. Agora, o quanto isso influência na eficácia da vacina precisa sermelhor estudado”, pontua Daniela Santoro Rosa.


Para começar a desvendar essa questão, o Instituto do Sono dará início a um estudo com idosos acima de 60 anos imunizados contra COVID-19 e com apneia de sono. A ideia é mensurar a produção de anticorpos nesses indivíduos e fazer uma comparação com outros sem apneia do sono. Em breve, então, as respostas serão mais conclusivas.


O QUE FAZER?


Dada a possibilidade de que a resposta imune à vacina contra COVID-19 seja diminuída em caso de má qualidade do sono, o que fazer para, então, em meio ao caos da pandemia e dos altos índices de contaminados e mortos, a imunidade seja garantida sem receios? “Durma bem”, é o que recomenda Monica Andersen, diretora de pesquisa e ensino do Instituto do Sono. Segundo ela, todos os indivíduos que vão tomar a vacina devem, como todas as noites, mas especialmente na véspera da vacina e nas noites seguintes a imunização, dormir com muita qualidade e com a quantidade de horas suficientes.



“É importante destacar que o tempo de sono varia entre os indivíduos, têm pessoas que precisam de seis horas e outras de mais de nove. A maior parte da população dorme entre sete e oito horas, mas é importante respeitar as diferenças individuais. Se uma pessoa precisa de oito horas e meia, ela deve fazer com que na véspera e nos dias seguintes a vacinação ela durma essa quantidade de horas ideal." Ela explica que o sono é fundamental para a produção de anticorpos e é a medida mais importante para o corpo ter equilíbrio (homeostase), logo o sono como função principal causa equilíbrio interno, e entre vários desequilíbrios, o sistema imunológico é o que mais fica comprometido quando não se tem sono de qualidade.”


“No momento em que estamos, em uma pandemia com números dramáticos de mortes todos os dias no nosso país, é fundamental que as pessoas entendam que a medida comportamental que mais induz a nossa qualidade de vida e saúde é o sono, logo o sono é fundamental para o cenário que estamos vivendo nos dias de hoje, por meio do fortalecimento do sistema imunológico”, explica Monica Andersen.

E quem já se vacinou, mas não dormiu bem, o que fazer? “Para algumas vacinas, como a da hepatite B, já sabemos a quantidade de anticorpos necessária para o indivíduo estar protegido contra a infecção. No caso da COVID-19, ainda não se sabe qual é essa quantidade. Se é possível reverter o quadro? Talvez dando uma outra dose da vacina. Por exemplo, sabemos de indivíduos que não conseguem atingir os níveis de anticorpos necessários para proteção na vacina contra hepatite B e ele recebe uma dose a mais com monitoramento. Então, talvez essa seja uma maneira de reverter o efeito da falta ou diminuição de imunidade por conta de alterações no sono.”


É o que comenta a biomédica Daniela Santoro Rosa. Porém, ela pondera ser necessário estudos mais aprofundados para delinear a melhor medida a ser adotada em casos de redução da resposta imune em razão da qualidade do sono antes e depois da vacinação.


COMO DORMIR BEM?


Para quem ainda vai se vacinar contra COVID-19 ou gripe, Monica Andersen, diretora de pesquisa e ensino do Instituto do Sono, e Daniela Santoro Rosa, pesquisadora do Instituto do Sono, dão dicas que podem ajudar a superar a ansiedade da véspera da imunização e melhorar a qualidade de sono e, consequentemente, da resposta imune à vacina. Confira:


>>Mantenha uma rotina: mesmo se você está trabalhando no regime de home office e pode ficar mais tempo na cama, estabeleça horários fixos para dormir e acordar. Ainda que seja difícil, tente manter regularidade e sempre acorde e durma na mesma hora. Variações podem ocorrer, mas evite discrepâncias consideráveis. Por exemplo, não durma um dia em torno das 22h e no outro por volta das 3h.


>>Faça do quarto um local para dormir: evite estímulos horas antes do início do sono, como assistir televisão, mexer no celular ou acender a luz. Ambientes claro bloqueiam a produção de melatonina e atrapalham o sono.


>>Evite alimentos pesados e bebidas com cafeína: faça refeições leves até duas horas antes de deitar. Não tome café, energéticos e chá preto ou outras bebidas com cafeína e/ou estimulantes na parte da noite, pois pode interferir na qualidade do sono.


>>Diga não às bebidas alcóolicas: vinho, cerveja e outros tipos de bebidas alcoólicas quando ingeridos à noite ajudam a adormecer, mas alteram a arquitetura e qualidade do sono.


>>Reduza o estresse: não assista programas de televisão polêmicos ou violentos antes de dormir e evite brigas. Crie um ambiente prazeroso antes de dormir, prefira ler, ouvir música, meditar, fazer técnicas de relaxamento ou oração antes de dormir. Procure atividades tranquilas que lhe agradem.


>>Atividade física tem hora: pratique exercícios físicos durante o dia, de preferências nas primeiras horas. Atividade física perto da hora de dormir interfere no fluxo do sono, reduzindo sua função reparadora. Em casa, os exercícios podem ser adaptados.


*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram



Fonte: Estado de Minas / Saúde

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